quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Momento de Prosa Dança Afro


Nós que compomos esse “Quilombo Virtual” denominado de Pernambuco Afro Cultural, temos a honra e o prazer em entrevistar uma das maiores Dançarina de Dança Afro, Silvana Figueira.

Fotos: Arquivo Pessoal 

1-Pernambuco Afro Cultural. Quem é você?



Silvana Afro. Que pergunta difícil para uma mulher de 43 anos, anagráficos, mas com quinze anos mentais e ainda um bebê com vontade de aprender tudo!
Hahahaha!

Mas agora falando sériodefinir-me não é fácil, porque ainda não sei o que eu quero ser quando crescer. Por enquanto continuo dançando, fazendo coreografias, criando espetáculos e tentando transmitir nossa cultura afro brasileira aqui na Itália, mas tentando ficar fora dos esquemas comerciais dessas pseudo “novas” danças e ritmos. Algumas pessoas aqui dizem que sou uma “purista” que gosto da música e da dança tradicional e de raiz. Um pouco de verdade tem nessa afirmação, mas também gosto das inovações culturais de  boa qualidade e com originalidade, porque um tem que saber pelo menos de onde veio, pra depois poder ir aonde quiser, seja como pessoa ou como artista..



2-Pernambuco Afro Cultural.Silvana conta pra gente, como você começou a fazer dança afro?

Silvana Afro.Aqui tem um segredo que nem minha mãe nunca soube: quando eu tinha uns 17/18 anos eu ia escondido num terreiro sozinha pegando dois ônibus de Paratibe para o Vasco da Gama de noite,  para ver as danças dos participantes que recebiam os santos, ou melhor dizendo os orixás! Era uma coisa maravilhosa, sem véu e sem espetáculo, pura magia e espiritualidade e tudo aquilo sempre me fascinou. Com 18 anos fui chamada pra “engrossar a fila” dos passistas de frevo, e logo depois comecei a fazer seriamente aulas de frevo com Tonho das Olinda e com Loy (os meus mestres de frevo de sempre), mas logo depois comecei a dar aulas de dança afro, maculelê e dança dos orixás, porque pra mim eram movimentos naturais, eu os fazia com intensidade e respeito, e  começaram a chegar convites de outros grupos de dança de Olinda para pedir que eu coreografasse as danças afros e os maculelês. Fiz parte por muitos anos do Afoxé Alafin Oyó no tempo que minha tia Martinha era a presidente, e até hoje  me sinto parte daquele afoxé, mas gosto muito do afoxé do Dito  - O Ilê de Egbá e do Oxum Pandá.
No Festival de Garanhuns fui convidada pelo Maracatu Nação Pernambuco pra dançar com eles. E nesse importantíssimo Festival fiz uma das minha primeiras oficinas de dança afro de nível profissional, foi uma experiência fantástica.Na Bahia aprendi muito e tive o meu primeiro contato com a dança afro contemporânea na Universidade de Salvador, já no Pelourinho, fiz aulas de dança afro tradicional e também no SESC. Mas uma das que mais me marcaram foi conhecer a técnica de Rosangela Silvestre.

Foto: Arquivo Pessoal 

3- Pernambuco Afro Cultural.O que você acha da Cultura Afro Pernambucana?

Silvana Afro.O que eu posso dizer da cena pernambucana, vista daqui da Itália depois de quase treze anos fora do Brasil, através dos sites, dos links, dos  blogs e dos jornais on-line é que tem um fogaréu em cada beco da cidade! Parece que tem muita vontade de fazer cultura, formação e informação, mas também muita consciência de ter que insistir, lutar e inovar pra ter espaço e respeito.


4-Pernambuco Afro Cultural. Como você descreve o cenário e a recepção da dança afro no exterior?

Silvana Afro. Aqui na Itália tem muitos profissionais sérios e extraordinários, mas tem também muita gente que nunca dançou no próprio país e quando chega aqui começa a ser bailarino, coreografo sem nenhuma formação e chama qualquer coisa de “danza afro-brasileira”, então você tem que realmente insistir pra obter espaço, respeito e ser conhecida como “aquela que não faz música comercial”(nada contra, mas eu tenho uma cultura riquíssima e acho que merece ser conhecida e valorizada, o resto é onda passageira). Fazer samba de roda, maculelêmaracatu, coco, Ijexá. E tudo o que no Recife tem de cultura é muito difícil aqui, mas nos últimos três ou quatro anos depois de muito insistir começam a germinar as sementes plantadas. A dança dos Orishás hoje faz parte de muitos espetáculos, performances e peças teatrais como Kampé um espetáculo com um roteiro cultural que une Brasil, Cuba e Haiti através da cultura dos orixás, da diretora teatral Daniela Carli. O grupo Nação Nordeste de Udine, faz exclusivamente músicas da tradição nordestina brasileira(eles são todos/as italiano/as), mas com um profundo amor e respeito pela nossa cultura, e com eles eu faço espetáculos e formação em dança uma vez por mês. O trio da brasileira Denise Dantas, com a qual eu colaboro em alguns espetáculos, tem um repertório riquíssimo de ótima música brasileira. A dança afro tem muito espaço dedicado aqui na Itália, mas também em outros países da Europa como França, Espanha e Alemanha,  a dança afro-brasileira é muito diluída e misturada com qualquer coisa, então como eu  disse antes é preciso criar uma identidade cultural muito forte pra resistir aos modismos passageiros. O meu curso de dança se chama AFROSAMBA, foi a maneira que eu encontrei pra explicar a diferença da dança afro feita pelos maravilhosos bailarinos/as africanos e àquela feita no Brasil que  nasce misturada(então dizer que eu sou purista não  né). A dança afro-brasileira é fruto de muitas culturas: africana, indígena e europeia, então com o AFROSAMBA eu faço todos os tipos de samba: de roda, samba de maracatu, samba enredo, etc, mas também todas as danças que tiveram influência africana principalmente no nordeste do Brasil. Nos últimos anos por exemplo, o maracatu é muito conhecido aqui na Itália e em Verona, a cidade em que moro; e se pensamos que o maracatu junto com o frevo são as duas expressões culturais tipicamente pernambucanas, é uma coisa realmente maravilhosa! São quatro anos que desfilo no carnaval de Verona com uma ala só de MARACATU!!! Tenho muitas colaborações artísticas aqui, que enriquecessem a carreira e a cultura.

5- Pernambuco Afro Cultural. Quais foram os investimentos que você realizou para se tornar uma “Dançarina do ritmo Afro” de sucesso?

Silvana Afro. Saber de onde você veio, saber a origem da própria cultura é o investimento melhor que eu sempre busquei e que sempre me deu retorno de nível pessoal e artísticoEntão investir em leituras, espetáculos teatrais, ir ver grupos de dança, shows de vários estilos até muito diferentes da própria bagagem cultural, visitar museus e deixar que as obras de arte “entrem” em você através das cores e dos escuros de cada quadro, te dá uma abertura mental e artística sem igual. E aqui isso é muito forte.

6-Pernambuco Afro Cultural.Qual o maior feito que a dança proporcionou na sua vida?

Silvana Afro. Permitir na minha humilde vida, de viver de dança.

7-Pernambuco Afro Cultural. O que você diria para jovens que  são iniciantes da dança afro?

Silvana Afro. Que dancem de tudo, que lembrem que na diáspora a cultura africana chegou em cada lugar do mundo e soube se adaptar e interagir com outras culturas e enriquecer a cada encontro.

Foto:Arquivo Pessoal

8- Pernambuco Afro Cultural.Quais foram os Grupos que você fez parte?

Silvana Afro.O primeiro foi o Grupo Frevo, Capoeira e Passo de Olinda, que ficou no meu coração, depois tive muitas colaborações e participações até chegar aqui na Itália e formar a Companhia das Artes com dança, circo e teatro de rua na região Marche no centro da Itália.
Depois fiz parte da Fundação AIDA de teatro para jovens e crianças de Verona como atriz teatral, e fiz três anos de tournés recitando em quatro peças teatrais indo do Teatro Goldoni de venezia e il piccolo de Milão. Até que voltei de novo pra dança, a minha paixão de sempre e hoje colaboro com muitas realidades  citadas acima, mas trabalho principalmente sozinha e freelance com bailarina, professora de dança e de português, coreografa e costumista de cena pra vários grupos italianos como: o Forteza de Verona e o Nação Nordeste de Udine; e também africanos como o Djambadom do percussionista guineano Ernesto da Silva.

Pernambuco Afro Cultural. Onde Poderemos ver o teu trabalho?

Silvana Afro. Pelo meu canal no youtube, confere!
Links:
https://www.youtube.com/watch?v=dMTIml-MXE4
https://www.youtube.com/watch?v=fTwOLkoXLuI
https://www.youtube.com/watch?v=28M7oEPwtf4
https://www.youtube.com/watch?v=I6zTxAyeA1U

9-Pernambuco Afro Cultura. Qual o seu mais novo trabalho?

Silvana Afro. O meu mais novo projeto é uma línea de roupas e acessórios étnicos que misturam tecidos africanos, brasileiros e europeus com modelos modernos, revisitados e adaptados ao uso europeu, mas também com uma abertura à vestibilidade brasileira, é tudo em fase de finalização, mas assim que tiver a data do lançamento da minha linha vou ter o prazer de anunciar aqui no Quilombo Virtual, até porque tenho um grande interesse em encontrar novas parcerias artísticas e de investimento na cultura e na economia inovativa de Pernambuco. Agradeço à todos e todas vocês do Quilombo Virtual por ter me dado a possibilidade de falar um pouco dos meus projetos e experiências artísticas aqui na Itália. Desejo sorte e muito axé!


Silvana Figueira AFROSAMBA
Contatos : danzafro@hotmail.it (39)3388236635

Pernambuco Afro Cultural, nós é que estamos vibrando e por você que faz das suas origens e vivências espetáculos.  Afros Abraços e estamos a disposição para continuar Fomentando e Corroborando, com as histórias e memórias dos nossos/as Ancestrais!
Pernambuco Afro Cultural 

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