Primeiramente, queremos agradecer pela oportunidade em registrar esse Momento de Prosa, com um dos maiores ícones da Literatura Afro Pernambucana. Lepê Correia que engrandece e enche de alegria o nosso “Quilombo Virtual”.
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Foto: Arquivo Pessoal do Escritor |
P.A.C
O
senhor tem um currículo extenso e admirável, mas diga-nos, quem é Lepê Correia?
Lepê
Correia... - Um Senhor pernambucano que gosta de estudar, escrever, contar
histórias, crianças, pesquisar sobre culturas práticas e ritos ancestrais afros
e brasileiros, cantar e sorrir muito das “trapaças da sorte”. Por isso: sempre
apaixonado.
P.A.C
Sua
história é marcada pela escrita, qual é o sentimento de ter contribuído com a
imprensa Negra Pernambucana? Jornal Djumbay.
Lepê
Correia... Se por esta façanha fui útil, sou muito agradecido ao Universo.
Gostaria de ter me envolvido com pessoas mais comprometidas, politicamente, com
a gente negra e dado continuidade a uma coisa que faz falta em Pernambuco: um
órgão de divulgação de nossos anseios, lutas e ocupações de espaços por meio da
resistência. Mas foi de muita valia enquanto existiu seriamente. Após os
acontecidos, que me calo por questões éticas, dá uma impressão de que, ainda,
havemos de começar. Mas contribui de outras formas. Produzi programas para a
Rádio Universitária (99.9 MHZ), onde fui produtor e locutor do Programa diário,
“Esquema”, onde entrevistei Afonjah, Cesária Évora, Brasáfrica e tantos outros;
fiz as primeiras transmissões da Noite dos Tambores Silenciosos, para a TV
Universitária do Recife, quando eram respeitados os espaços para os Maracatus
cumprirem suas funções perante os ancestrais Bantu. Na Jovem Cap (1240 KHZ),
produzi e levei ao ar o programa “Tomando Ciência”, divulgando a música negra
(Canibal é testemunha), as histórias de Pernambuco (cultura, política e
sociedade) e do negro no Brasil e no mundo.
P.A.C
Muitos
de seus textos são musicados, Caxinguelê na voz de Valdir Afonjah, o Afoxé
Alafin Oyó e demais cantam, Otto Cantou
Rainha Matamba durante o Carnaval no Marco
Zero! Qual a sua impressão diante deste fenômeno?
Lepê
Correia... – Já vai aí? Não me vejo tão fenomenal assim. Apenas, faço o que
gosto com muito carinho. Fiz as primeiras músicas do Alafin, quando ganhei o
Primeiro Festival Alafin, na década de 1980, com Rainha Matamba, que tive a
felicidade de vê-la gravada por Afonjah e, hoje, ser tocada até na Republica
Tcheka (segundo planilhas do ECAD e UBC), levada por Valdir, junto com
Caxinguelê. Foi gravada também pela Grande voz do saudoso Marcílio Lisboa, e
agora esse menino Otto, que eu não conheço pessoalmente, me brinda com essa
“colher de chá”... ah ah ah ah. Dá pra ser infeliz? Ah ah ah ahah. Sem esquecer
que tenho “Dama do Paço”, gravada por Jadson Hilton e Baião D3, fora o “hino”
do Movimento Negro Pernambucano, que compus em 1980, intitulado “Andar Negro”,
que um companheiro maravilhoso passou a mão, gravou sem minha permissão, e as
más línguas o escutaram dizer na Bahia que era dele ah ah ah ah ah.
P.A.C
Ao
todo quantos livros foram publicados? Há algum especial?
Lepê
Correia... - Meu livro de poemas de negritude Caxinguelê, hoje, em 2ª edição, tem sido estudado no Departamento
de Letras da John Hopkins University, em Maryland –USA, levado pelo professor
Steven White, que me intitula como um dos Reinventores do Passado Sagrado na Poesia
Afro-Brasileira Contemporânea, e na Ilinois University, o professor Afolabi, da
Nigéria, publicou contos e poemas de minha autoria,na antologia or=ganizada por
ele. Canoeiros e Curandeiros: resistência negro-urbana em Pernambuco-Sec.
XIX, foi discutido no programa de literatura da Universidade de Berlim, sob
a responsabilidade da profª Ikne Paff, que o levou no dia do lançamento, em
2006. Na UFMG, o professor Eduardo de Assis Duarte, me confere 10 páginas, no
volume 3, do seu Literatura e
Afrodescendência no Brasil: antologia crítica, 2012, entre os escritores contemporâneos. E isso, é
porque, segundo alguns “doutores” do olimpo de Letras da UFPE, eu não sei
escrever.. ah ah ah ah a. Estou na Antologia Áfricas de África, 2005, uma reunião de ensaios sobre escritores de
países africanos de Língua Portuguesa,
organizada pela Profª Zuleide Duarte, da UEPB. Fiz parte de várias antologias
pelo Brasil. Há 10 anos escrevo com o
pessoal dos Cadernos Negros, da
Quilombhoje Literatura, onde acabamos de lançar o volume 36 – Contos
Afro-Brasileiros, antologia feita, em São Paulo, por escritores negros de todo
o Brasil. Mas o Caxinguelê, ainda é o meu xodó.
P.A.C
Tem
algum trabalho novo surgindo?
Lepê
Correia... Sim. A Quilombhoje: um Tambor Expressando as Vozes Literárias
Negras. Minha Dissertação de Mestrado que estou dando formato, e Minha Tese de
Doutorado que estou escrevendo, e quero também publicar. Meu sonho é produzir,
também, um DVD com minhas conferências musicadas, que já venho fazendo há mais
de 5 anos.
P.A.C
Como
o Senhor avalia o cenário para Literatura Negra em nosso Estado?
Lepê
Correia... - Sofrível. Ainda bem que existem Miró, Malungo, se não, seria
marasmo total. Existem outros trabalhos, mas são da academia, para a academia,
feito “amigo é coisa pra se guardar”: debaixo de sete chaves ah ah ah ah ah. Já
tentamos juntar, fazer produções grupais, mas falta consciência política e
compreensão filosófica do espírito comunitário, de como nossos ancestrais
conseguiram, apesar de escravizados, manter tradições até hoje. Temos que
deixar de construir eu-tidades. Desse
jeito não dá para sobrepujar o racismo institucional.
P.A.C
Onde
o público leitor pode encontrar seus livros ou acompanhar o seu vasto trabalho?
Lepê Correia... Meus livros, infelizmente, sumiram. O Canoeiros..., foi publicado pelo FUNCULTURA, e por excesso de confiança em “pessoas maravilhosas” e “bem intencionadas”, eu só tive 4 caixas porque meu irmão tirou na marra, das mãos das duas mocinhas que deram entrada ao projeto. Não pude ainda reeditá-lo. O Caxinguelê, ainda não consegui fazer uma nova edição. Só me restam os Cadernos Negros, que participo das antologias, todos podem adquirir pelo site www.quilombhoje.com.br. Meus trabalhos também podem ser vistos no site Literafro, da UFM; no meu blog: Kaxinguele.blogspot.com, ou entrando na minha fanpage para saber onde vou fazer palestras musicadas. A propósito, estamos querendo fazer um lançamento do Cadernos 36, em Recife. Vocês nos ajudam?
P.A.C – Ah! É evidente que sim, será uma honra inenarrável, corroborar com a ampliação da visibilidade da Literatura Negra em nosso Estado e o Cadernos Negros tem sido grandioso por esse feito!
P.A.C Agradecemos de coração, ao Mestre Lepê Correia pelo momento de prosa, que esse seja o início de um novo ciclo afro, negro literário. Axé!
Lepê
Correia...- Perdoem as coisas chatas que foram transversais em nossa conversa.
Mas são coisas que precisam ser ditas, principalmente para alertar aos que
precisam publicar e não desconfiam das “esmolas grandes”. Mas...um dia, eu fui
convidado para um Congresso de Psiquiatria no Ceará. Fui só com a passagem de
ida, no ônibus. Foi aí que apareceu um concurso de poesia. Sentei-me em um bar,
pedi um guardanapo, meti-lhe a caneta, fui pra o auditório e lasquei o pau... ]
- A dô maior desse mundo \ Que o doutô num entende \ Pois é coisa que trancende \ Da ciência oficiá \ É uma dô tão insquisita \ Que nem a dô da mardita \ Que queima \ Num dói inguá. [...] Seu doutô \ Seu anelão e o seu queimar de pestana \ Do que o senhor se ufana \ Se pra mim não vale nada? \ Eu quero ver seu doutô \ É pará a dô do amô \ Na saída ou na entrada.
-
E se o sinhô qué uma pista \ Pra depois num se perdê \ Eu posso até li dizê\ É
só prestá atenção: \ Fala sem emoção é morta \ Sua ciênça só é torta \ Porque
num tem coração.
-Êêêêê..!
Muito beeeemmmmm
-
(Palmas e gritos)Já ganho, já ganhou...
Bem...
Além de eu ter voltado de avião, ainda comprei uma estante pra minha sala e
tomei uns sorvetes na Botijinha, que era ... lá atrás da Caixa Econômica da
Guararapes.. ah ah ah ah
Muito
agradecido pela generosidade de vocês para comigo.... Bjs.
P.A.C
Nós
que agradecemos, pela enorme contribuição em manter viva a memória e a história
do nosso povo! Obrigada, Mestre Severino Lepê Correia!
Este blog maravilhoso está convidado para a defesa de minha tese.
ResponderExcluirParabéns, Mestre. Gratidão pelas contribuições!
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