quinta-feira, 9 de julho de 2015

25 Por Todas Nós!



Sabe qual é o negro mais bonito do mundo? É aquele que tem consciência de suas raízes, de suas origens culturais. É aquele que tem a atitude de quem sabe, quem é ele mesmo, e não outro determinado pelo poder branco.


 Lélia González



 
Foto: Fernando Azevedo


 Por Rosangela Nascimento

Inicialmente quero agradecer, saudando Olorum (Deus) e a Oxum (Deusa das águas doce), pois tivemos uma semana intensa de chuvas e instantes de calamidade para algumas pessoas que residem em áreas de risco. Agradecer aos Deuses pelo equilíbrio da natureza, permitindo um domingo (05 de julho/2015) ensolarado e repleto de axé aquecendo mentes e corações ávidos. Quando cheguei à Praça do Carmo – Olinda Pernambuco, fui recebida gentilmente pelo companheiro Fernando Azevedo responsável pelo registro visual, como também a Neide Santana. As companheiras Flávia Clemente e Girlana Diniz já estavam presentes e acolhiam as Pretas que chegavam aos poucos.  Aguardamos para iniciarmos às três horas, fomos nos apropriando do espaço e formando um ciclo de energia, dando e recebendo, sempre trocando, renovando , socializando, felicitando boas vindas e descrevendo sobre o formato da nossa atividade, esta primeira etapa foi direcionada de forma acolhedora, despertando a sensibilidade para o trabalho com a imagem, tópico 21 do nosso projeto em tela, que diz respeito a não violência da imagem da mulher negra. Realizamos uma roda do beijo e em alto tom, liberando as energias gritamos a palavra “Ubuntu”, uma vez que as nossas expectativas, percepções e emoções foram trazidas para este universo direcionando nossos sentimentos de coletividade e empatia.
Para tanto, é importante colocar que essa sensibilização foi toda organizada via internet, como também todos e todas as/os profissionais envolvidos/as foram de caráter voluntário. E realizamos o projeto sem ajuda de custo de qualquer órgão público ou privado. Foram os sonhos e o respeito que serviram de base, para concretizar este fazer. Tivemos um público estimado em mais cem afros descendentes. 
Seguimos sobressalto, procurando um lugar na Praça com sombra e uma grama, para que pudéssemos sentar. Algumas companheiras forravam suas cangas, e outras foram se acomodando da forma mais confortável. Girlana Diniz direcionou a roda de conversa que contou com a contribuição das companheiras que socializaram suas histórias. A Girlana iniciou citando “O negro tem que ter nome e sobrenome”, disse Lélia Almeida González. Então seguimos dizendo nome e sobrenome e o que fazíamos e aos poucos, nos conhecendo e apresentando-nos. Quando tratamos de mulheres negras e imagem, e vem à pergunta. O que é ser mulher negra? Um silêncio aparece o titubear é visível no semblante de todas que maneavam suas cabeças, pois estávamos olhando para o sul, ou seja, para dentro de nós mesmas. Aos poucos foram surgindo às tímidas vozes, que pausadamente ganhavam força. O Rennan captava as imagens e falas das companheiras, pois está atividade tem um caráter educativo com produção de audiovisual, no intuito de divulgar o dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A presidente Dilma Rousseff sancionou, em 02 de junho de 2014, a Lei Nº 12.987 que institui o, 25 de julho dia Nacional de Tereza Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela, liderança quilombola do século 18, que chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. É uma data de grande relevância para as mulheres. É um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe. Sabemos o valor, a importância e compromisso que assumimos em nos fortalecermos sempre. 

Fotos: Fernando Azevedo

Neide Santana realizou uma intervenção acredito que é um trabalho inédito, sobre a “Pintura Ndebele como elemento que reafirma a identidade da mulher negra”. Ndebele é uma nação que habitam a região de Lesedi, na África do Sul e, com cerca de 700 mil pessoas, são uma das poucas tradições. Mesmo sendo uma sociedade patriarcal, a conhecida herança artística dos Ndebele foi passada de mãe para filha ao longo dos séculos e apenas as mulheres se dedicam aos grafismos e artesanatos. A tradição artística Ndebele até o século XIX se detinham apenas aos tecidos, a partir de então as pinturas passam a ser desenvolvidas também em murais. A expressão feminina, na sociedade Ndebele, a mulher ocupa uma posição distinta, devido ao seu domínio na arte da pintura e com o vestuário. Grafismos e cores fortes são expressos em paredes e vestimentas, além dos acessórios (braceletes, colares e tiaras) confeccionados com miçangas e contas coloridas. Eles se utilizam, também, de fibras vegetais para os adornos que enfeitam o alto da cabeça, usados nas festas. Os grafismos são puramente artesanais e desenhados à mão livre, sem medições ou esboços. À primeira impressão, são as de imagem abstratas, mas na verdade tudo é feito baseado num complexo sistema de sinais e símbolos. É a arte que se perpetua e fortalece a identidade das mulheres negras.
Para está intervenção a Neide Santana criou um cenário com replicas de moldes de mulheres negras gestantes em tamanho “G e GG”, e as participantes tiveram uma atividade lúdica, reproduziram os traços em roupas de modelos com tinta guache e lápis de cor. Pequenos grupos foram se formando, recriando e fazendo surgir cores e belezas por meio dos grafismos, mais um pedaço do Continente Africano para reafirmar nossa identidade. (Essas informações foram repassadas pela Neide durante a oficina).
Após a intervenção com a Neide Santana partimos para a sessão fotográfica com o Fernando Azevedo, Maquiagem com o Félix Oliveira, e o vídeo com o Rennan Peixes. E nesta perspectiva dialogal, de fortalecimento, humanizado e de resistência seguimos na roda, e formando novos pensares, fazeres, dizeres e Quilombos.  
Conclui-se que tivemos lindos momentos de acolhida, resiliência, e entrega. E o sentimento que nossa militância é continua o compromisso em olhar para si, e para as outras é infinito. Sem sonhos não existe vida, nada muda, aproveito a oportunidade para agradecer aos viajantes e sonhadores e sonhadoras que direta ou indiretamente contribuíram com esta ação, e fazem deste mundo um ambiente mais humanizado e acolhedor, dizendo não a qualquer tipificação de violência.


Fotos: Fernando Azevedo


25 Por Todas Nós, pela luta contra todas as formas de discriminação de gênero, e com o combate a violência, maus tratos, assédio e exploração de mulheres e meninas. Prioridades para o bem estar das mulheres, pautadas pela configuração do feminismo negro.


Ubuntu!


 Link do vídeo
 https://www.youtube.com/watch?v=kplBTXyFBKk
 25 Por Todas Nós - Mulheres Negras e Imagem/Marcha das Mulheres Negras

Organizadoras: Flávia Clemente, Girlana Diniz e Rosangela Nascimento.

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