Sabe qual é o negro mais bonito do mundo? É aquele que
tem consciência de suas raízes, de suas origens culturais. É aquele que tem a
atitude de quem sabe, quem é ele mesmo, e não outro determinado pelo poder
branco.
Lélia González
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Foto: Fernando Azevedo |
Por Rosangela Nascimento
Inicialmente quero agradecer, saudando Olorum (Deus) e a Oxum
(Deusa das águas doce), pois tivemos uma semana intensa de chuvas e instantes
de calamidade para algumas pessoas que residem em áreas de risco. Agradecer aos
Deuses pelo equilíbrio da natureza, permitindo um domingo (05 de julho/2015) ensolarado
e repleto de axé aquecendo mentes e corações ávidos. Quando cheguei à Praça do
Carmo – Olinda Pernambuco, fui recebida gentilmente pelo companheiro Fernando
Azevedo responsável pelo registro visual, como também a Neide Santana. As
companheiras Flávia Clemente e Girlana Diniz já estavam presentes e acolhiam as
Pretas que chegavam aos poucos. Aguardamos
para iniciarmos às três horas, fomos nos apropriando do espaço e formando um
ciclo de energia, dando e recebendo, sempre trocando, renovando , socializando, felicitando boas vindas e descrevendo sobre o formato da nossa atividade,
esta primeira etapa foi direcionada de forma acolhedora, despertando a
sensibilidade para o trabalho com a imagem, tópico 21 do nosso projeto em tela,
que diz respeito a não violência da imagem da mulher negra. Realizamos uma roda
do beijo e em alto tom, liberando as energias gritamos a palavra “Ubuntu”, uma
vez que as nossas expectativas, percepções e emoções foram trazidas para este
universo direcionando nossos sentimentos de coletividade e empatia.
Para tanto, é importante colocar que essa sensibilização foi
toda organizada via internet, como também todos e todas as/os profissionais
envolvidos/as foram de caráter voluntário. E realizamos o projeto sem ajuda de
custo de qualquer órgão público ou privado. Foram os sonhos e o respeito que
serviram de base, para concretizar este fazer. Tivemos um público estimado em
mais cem afros descendentes.
Seguimos sobressalto, procurando um lugar na Praça com sombra
e uma grama, para que pudéssemos sentar. Algumas companheiras forravam suas
cangas, e outras foram se acomodando da forma mais confortável. Girlana Diniz
direcionou a roda de conversa que contou com a contribuição das companheiras
que socializaram suas histórias. A Girlana iniciou citando “O
negro tem que ter nome e sobrenome”, disse Lélia Almeida González. Então seguimos dizendo nome e
sobrenome e o que fazíamos e aos poucos, nos conhecendo e apresentando-nos.
Quando tratamos de mulheres negras e imagem, e vem à pergunta. O que é ser
mulher negra? Um silêncio aparece o titubear é visível no semblante de todas
que maneavam suas cabeças, pois estávamos olhando para o sul, ou seja, para
dentro de nós mesmas. Aos poucos foram surgindo às tímidas vozes, que
pausadamente ganhavam força. O Rennan captava as imagens e falas das
companheiras, pois está atividade tem um caráter educativo com produção de
audiovisual, no intuito de divulgar o dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A presidente Dilma
Rousseff sancionou, em 02 de junho de 2014, a Lei Nº 12.987 que institui o, 25
de julho dia Nacional de Tereza Benguela
e da Mulher Negra. Tereza de Benguela, liderança quilombola do século 18,
que chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da
Santíssima Trindade, Mato Grosso. É uma data de grande relevância para as
mulheres. É um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra
opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe. Sabemos o valor, a
importância e compromisso que assumimos em nos fortalecermos sempre.
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Fotos: Fernando Azevedo |
Neide Santana realizou
uma intervenção acredito que é um trabalho inédito, sobre a “Pintura Ndebele como elemento que reafirma
a identidade da mulher negra”. Ndebele é uma nação que habitam a
região de Lesedi, na África do Sul e, com cerca de 700 mil pessoas, são uma das
poucas tradições. Mesmo sendo uma sociedade patriarcal, a conhecida herança
artística dos Ndebele foi passada de mãe para filha ao longo dos séculos e
apenas as mulheres se dedicam aos grafismos e artesanatos. A tradição artística
Ndebele até o século XIX se detinham apenas aos tecidos, a partir de então as
pinturas passam a ser desenvolvidas também em murais. A expressão feminina, na
sociedade Ndebele, a mulher ocupa uma posição distinta, devido ao seu domínio
na arte da pintura e com o vestuário. Grafismos e cores fortes são expressos em
paredes e vestimentas, além dos acessórios (braceletes, colares e tiaras)
confeccionados com miçangas e contas coloridas. Eles se utilizam, também, de fibras
vegetais para os adornos que enfeitam o alto da cabeça, usados nas festas. Os
grafismos são puramente artesanais e desenhados à mão livre, sem medições ou
esboços. À primeira impressão, são as de imagem abstratas, mas na verdade tudo
é feito baseado num complexo sistema de sinais e símbolos. É a arte que se
perpetua e fortalece a identidade das mulheres negras.
Para está intervenção a Neide Santana criou um cenário com
replicas de moldes de mulheres negras gestantes em tamanho “G e GG”, e as
participantes tiveram uma atividade lúdica, reproduziram os traços em roupas de
modelos com tinta guache e lápis de cor. Pequenos grupos foram se formando,
recriando e fazendo surgir cores e belezas por meio dos grafismos, mais um
pedaço do Continente Africano para reafirmar nossa identidade. (Essas informações foram repassadas pela Neide durante a oficina).
Após a intervenção com a Neide Santana partimos para a sessão
fotográfica com o Fernando Azevedo, Maquiagem com o Félix Oliveira, e o vídeo
com o Rennan Peixes. E nesta perspectiva dialogal, de fortalecimento,
humanizado e de resistência seguimos na roda, e formando novos pensares,
fazeres, dizeres e Quilombos.
Conclui-se que tivemos lindos momentos de acolhida,
resiliência, e entrega. E o sentimento que nossa militância é continua o
compromisso em olhar para si, e para as outras é infinito. Sem sonhos não
existe vida, nada muda, aproveito a oportunidade para agradecer aos viajantes e
sonhadores e sonhadoras que direta ou indiretamente contribuíram com esta ação,
e fazem deste mundo um ambiente mais humanizado e acolhedor, dizendo não a
qualquer tipificação de violência.
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Fotos: Fernando Azevedo |
25 Por Todas Nós, pela luta contra todas as formas de
discriminação de gênero, e com o combate a violência, maus tratos, assédio e
exploração de mulheres e meninas. Prioridades para o bem estar das mulheres,
pautadas pela configuração do feminismo negro.
Ubuntu!
Link do vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=kplBTXyFBKk
25 Por Todas Nós - Mulheres Negras e Imagem/Marcha das Mulheres Negras
https://www.youtube.com/watch?v=kplBTXyFBKk
25 Por Todas Nós - Mulheres Negras e Imagem/Marcha das Mulheres Negras
Organizadoras: Flávia Clemente, Girlana Diniz e Rosangela Nascimento.
Apoio:
Fernando Azevedo: https://www.facebook.com/fernandoazevedo.photos?fref=ts
Félix Oliveira: https://www.facebook.com/josefelix.felix.393?fref=ts
Neide Santana: https://www.facebook.com/neidesantana.santana?fref=ts
Rennan Peixes: https://www.facebook.com/rennan.peixe?fref=ts
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