quinta-feira, 13 de março de 2014

Carolineando, Nas Batidas Dos Tambores!


Maria Carolina de Jesus 

Por: Rosangela Nascimento


Ano centenário de Carolina Maria de Jesus, confesso que tenho uma ligação espiritual com essa escritora, sempre busco força e inspiração em sua história para escrever, de algum modo nossas vidas um dia se encontraram, mesmo que seja por meio das letras, pela forma peculiar que nós mulheres negras, temos quando desenvolvemos nossas escritas. Escrever virou um ritual, pano branco na cabeça e acender uma vela para bons espíritos luz.


Não, podia esquecê-la Carolina, na Faculdade lembro que avaliadora da banca do TCC, olhou para mim e disse; "Que coragem, trazer para esse universo essa escritora, diante de tantas outras!". Mas, não sabia ela, que foi o “Quarto de Despejo” que veio ao meu encontro. Que a cada página que lia, via as cenas daquela mulher negra, com sua meia de algodão velha, seu lenço na cabeça para proteger do sol, sua forma firme de falar para afugentar os oportunistas, na luta diária para alimentar seus filhos, me sentia nos braços dela, eu era a própria Vera Eunice, e estamos aqui Carolina mais uma vez, você me fortalecendo e eu contribuindo a dizer que você é “Uma Escritora Negra”. 


O Quarto Despejo, todo mundo vive o seu, olhem em volta, o racismo estar aí, as injustiças sociais! A imagem da mulher negra pobre e favelada, estereotipada o cenário continua o mesmo!


Para a Carolina, o Quarto de Despejo era seu habitat, mas um habitat desumano, onde acomodava o que a sociedade branca e elitizada só via pelos jornais, as desgraças vivenciadas por aqueles e aquelas que por ironia do destino, ou falta de oportunidade, e algumas mazelas que tem a cor, como mira para justificar os desacertos causados por um país colonizado, e que ao longo de sua história cultivou uma segregação racial. É perceptível, como as nomenclaturas mudam, mas o contexto é o mesmo!


Então, a exemplo da resistência, forças, manutenção da história, tragam os tambores para avivar a memória, convido para um Déjà-vu, onde coletivamente iremos tocando, cantando, batendo o nosso ponto mais forte de comunicação, “Nossos Tambores”, que lembram as conquistas e vitórias, que celebram a vida e também a morte, que fortalece o Orixá e anima a alma de cada Ogã. Os tambores que vibram e relembram histórias de mulheres fortes, destemidas e obstinadas, como Mãe Biu da Xambá, Badia, Mãe Amara, Dona Lindalva de Xangô, Dona Dada, Dona Mônica, Conceição dos Prazeres, Mãe Lúcia, Bethy da Oxum, Lia de Itamaracá, Ceça Axé, Vera Baroni, Dona Selma do Coco, deixam e que deixaram para as suas comunidades melhorias, patrimônios imateriais construídos por marginalizadas, assim no sentido original na construção da palavra, a margem! 


São as Carolinas Pernambucanas, dentre tantas outras, que renascem a cada não, a cada violência sofrida, as mulheres que trabalham com material humano, reciclando vidas, a cada flor que brota no cacto, e emana sabedoria ao rufar do tambor. Elas não precisaram virar homens para serem fortes, e serem respeitadas, não passaram por baixo do arco-íris. Reencontraram-se, fortalecidas por sua espiritualidade, pelo axé. E a Carolina por meio do seu Diário, da sua meta linguagem, sua persistência e inquietação está na história, foi uma visionaria, e com a certeza inexorável de que uma mulher negra letrada, fortalecida é uma ameaça. Por que inquieta, ela mobiliza as demais, faz um batuque, convoca para bater o tambor e fica na história. E elas são história! 


Sobre Carolina Maria de Jesus:


Nasceu a 14 de Março de 1914 em Sacramento, estado de Minas Gerais, cidade onde viveu sua infância e adolescência.

 https://www.facebook.com/anocentenariocarolinamariadejesus?fref=ts

http://www.youtube.com/watch?v=erWVn-i1uC0

http://www.youtube.com/watch?v=DFEZE5TeiPc

http://www.youtube.com/watch?v=73cWnIOfZXM

Nenhum comentário:

Postar um comentário