sábado, 2 de janeiro de 2016

Ser Negra, não é ser somente, negra!



Por: [1]Rosangela Nascimento
O


Universo feminino, especificamente o da mulher negra, não é um mar de mistério, mas um campo repleto de simbolismos marcados pela violência, aliadas ao preconceito e ao racismo. Somos tão invisibilizadas pelo sistema, que muitas de nós esquecemos de fato de nossas origens. Nossas ligações diretas com a nossa ancestralidade e história de vida. É conhecendo, a nós mesmas, que criamos antídotos e curas para os males e mazelas destinadas perversamente para nós!
Conhecer as mulheres negras é coser todos os dias uma colcha de retalhos, é cortar, remendar e costurar. Ouvir, falar, estudar o campo de fragilidade e a individualidade. Assim numa roda de conversa vão surgindo tímidas falas, que durante muito tempo foram emudecidas e silenciadas.
Particularmente falando, me descobri negra aos treze anos e isto me fez renascer, foi algo tão libertador que naturalmente fui transmitindo as outras mulheres do meu convívio. Cabelo, tonalidade de pele, escolaridade, questões físicas e a classe social sempre foram e ainda são torturantes para algumas mulheres.
Crescer sem descobrir-se, é viver meramente sem se conhecer, é render-se ao preconceito, machismo e racismo. É sofrer uma tortura a cada minuto, pois nosso cabelo é posto como feio, a nossa cor tá ligada ao que é ruim e marginalizado, o corpo é visto como objeto de prazer, ser rica ou pobre não nos livra do racismo.  Porém, podemos mudar essa realidade, sempre. Não é e não será fácil, mas é possível!
Nesta colcha de retalhos, seguimos sempre aprendendo a nos cuidar, a reagir e repudiar. Não adianta saber como se manifestam as violências e não denunciar, ser cúmplice da violação de direitos é permitir que esse mundo continue nos invisibilizando , apagando nossas histórias, feitos e colocando-nos em piores lugares. O fortalecimento sempre aparece a cada nova ação, a força que emana é do empoderamento, é luz negra, é preta da cor da nossa alma.
O antídoto é o fortalecimento da autoestima, cada mulher negra que consegue ascender socialmente é sempre um ato de conquista e vitórias coletivas, são muitas renúncias e desafios, o mundo não foi educado a nos amar, respeitar e compreender. Queremos e merecemos tudo que é maravilhoso e belo. Assim seguimos sempre tomando o antídoto anti-racismo, em prol da igualdade, da justiça, liberdade e equidade.
Falar sobre as violências vivenciadas pelas mulheres, não significa dizer que todas nós temos que sofrê-las, mas ter a sensibilidade de perceber os danos e o mal causado a vida. Por isso somos todas companheiras e irmãs. E quando trago para roda, “Ser Negra, não é ser somente, negra”, é porque esse sentimento de total empatia, ele, é sempre presente, é a definição mais linda de acolhida, carinho e respeito.
No nosso universo, não tem mistérios e sim histórias marcadas pela dor, mas estamos aprendendo a superá-las, ainda assim não somos livres, pois o racismo as violência que nos causam constrangimento físico e morais insistem está entre nós.
Terminamos de coser diversas colchas dentro de nós, à força que emana emponderadamente vem da origem de outras mulheres guerreiras, vem de Dandara, Luiza Mahin, Aqualtune, Nzinga Mband, Mãe Biu da Xambá, Badia,  Mãe Amara, Inaldete Pinheiro, Vera Barone, Marta Rosa, Tereza de Benguela, Tereza Souza, Rosário Trindade, Dona Ceça do Morro da Conceição, Beth de Oxum, Dona Lêda, Ceça Axé,Lia de Itamaracá, Dona Selma do Coco, Mestra Ana Lúcia, Piedade Marques, Lucia Crispiniano, Lucia dos Prazeres, Viviana Santiago, Dona Elda do Maracatu, Girlana Diniz, Lúcia Salgueiro,Gerlane Simões, Rosana Lima, Ayla Nascimento, Avanir Santana,Silvia Leocádio, Gal Almeida, Rosilene Rodrigues, Paula Santos,Elza Soares, Flávia Clemente, Denise Botelho, Maria Helena Sampaio, Adriana Nascimento, Rejane Pereira, Ana Paula Maravalho, Rebeca Duarte, Mônica Oliveira, Ciane Neves, Silvana Figueira, Joseane Oliveira, Maria das Graças, Maria Aparecida, Maria Rita, Herika Domingos, Erika Silva, Elaine Cristina, Carla Jerônimo, Iandhala Carla, Aisha Dandara...
Cabem muitas mulheres nessa colcha, e incluo a mulher que me ensinou a sempre me reerguer, a desafiar a vida acreditando no melhor que há dentro de mim, minha mãe Maria José, que sempre foi muitas guerreiras em uma só, ela mesma. “Ubuntu, somos o que somos pelo que você é”, ser negra é sentir milhões e milhões de negras, é buscar o fortalecimento acreditando no movimento que move, o que há de mais intenso dentro de nós!   




[1] Arte educadora social, Graduada em Letras (FACHO), Blogueira negra espaço negrospe./Pernambuco Afro Cultural. Mãe, companheira e Afoita. 

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