sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

E os Afetos Correlatos!

“Não adianta rasgar as páginas da história, não adianta passar uma borracha naquilo que tá escrito, a palavra desenhada em papel tem vida, podem fazer o que quiser, mas nunca vai deixar de existir!"


Foto: Cortesia Adriana Nascimento

As luzes de Carolina Maria de Jesus, essa fonte inesgotável de força, coragem, teimosia e persistência que descrevo para você querida/o leitora/o sobre a Kizomba, ou digo, festa, a exaltação e manifestação do “feito” da escritora Negra Cidinha da Silva que aconteceu em Recife/PE no dia vinte e cinco do corrente ano.
Inquietante, despertador, imersão e desconstrução são essas as palavras que ecoavam em minha mente no Lançamento do Livro Racismo no Brasil e Afetos Correlatos. 
Sorry, não captei algumas falas iniciais, e não me atrevo a adivinhá-las, mas enquanto chegava de mansinho e me acomodava a Marta Rosa agradecia a presença, ouvi Inaldete Pinheiro, Piedade Marques e os meus olhos buscavam as pessoas já as cumprimentando-as. Dando continuidade, com o livro nas mãos ela trouxe a imagem da mulher negra e sua escrita, citou a bell hooks, como educadora mencionou vários aspectos a partir das obras da Cidinha, o 1º livro Tridente, crônicas sobre pessoas negras militantes comuns, os dilemas postos pelo racismo, assim aparecendo à função pedagógica. 
E calmamente continuava a Marta dizendo “A minha experiência pedagógica pintada por meio da linguagem artística, no cotidiano utilizamos as necessidades de se refazer (literatura)”. Qual é a imagem da mulher negra? Estereotipada, esse não é único lugar, cena do cotidiano, são a visão da mulher negra numa nova perspectiva literária, variações de linguagens, vamos pensar Joaquim Barbosa, pensar a mídia, rever a novela Lado a Lado, por meio da escrita da Cidinha, cita como exemplo o texto O preço da Admiração, ser um olhar atento persistente a partir de acepções do afeto – a escravidão no Brasil – Ela desmancha isso. O afeto mecanismo do racismo brasileiro quando sofremos violência, e sempre aparece, um afeto, para desmitificar a violência. Subúrbia, o sentimento da indignação, a impaciência defensiva das patroas (PEC nº 66). Perceber a presença do afeto em vários momentos. E é essa a escritora que a gente recebe em nossa cidade. Aplausos, o público repleto de mulheres e não preciso dizer a cor.
Ah! A Cidinha começa agradecendo "a Cinthia, que organizou o momento de conversa, Inaldete que nos recebe na casa dela, Isabel Freitas, Piedade, Rosangela Nascimento do Blog Pernambuco Afro Cultural. Essa audiência essas pessoas que estão aqui. Obrigada por terem vindo pra gente bater esse papo." Nesse momento, fui tomada pela emoção, por uma alegria imensa, esse também é meu espaço, essa história também é minha, estava compartilhando de uma vivência inédita, uma escritora jovem, negra, desafiadora, pois escrever crônicas e ter seu 7º livro publicado. É mais que um feito é uma epopeia. A mesma sistematiza uma produção intensa no Facebook sobre relações raciais na mídia. E a Cidinha diz que a novela Lado a Lado em sua opinião é revolucionária, e que começou assistir por uma convocação da Camila Pitanga e do Lázaro Ramos. Nos capítulos percebeu que era diferenciada, apresentava a Revolta da Chibata, e a cada capítulo se encantava mais. E postava seus textos, questionava. Porque as crianças do morro não iam à escola? Momento intenso da imprensa negra, e quando deu conta uns dos seus textos estavam na boca das personagens. Ficou maravilhada, eram as ações afirmativas – discussões geradoras. Descreve uma cena em que as personagens iam de casa em casa explicando o porquê das crianças irem à escola. Assim foi tecendo como foi compondo seu livro, leu a página 95 Salve a Soberana da Angola Janga das Águas e a Marta 57. Ardis da imagem. Então, o espaço para algumas perguntas, após a leitura veio um breve silêncio, que a Marta logo preencheu. Como se dava o processo criativo tem algum texto biográfico? Daí foi surgindo outras. 
Como eu estava admirada, tocavam todos os tambores do maracatu  Leão Coroado em minha mente, e anotando tudo, pois gosto de sistematizar informações, ainda assim timidamente levantei a mão e perguntei, mas não podia deixar passar o momento de manifestar a minha alegria, em rever pessoas que a tempo não via, mulheres que admiro pelo seu fazer e o prazer enorme em conhecer pessoalmente a Cidinha da Silva. A pergunta foi!  Há uma militante negra ou escritora que impulsionou você a escrever? Que foi referência? E respondeu, contando uma história de sua vida.
Utilizo desta nova forma de fazer literatura, via blog para socializar informações, assim descobrindo as novas possibilidades, a citação ao qual é abre alas deste texto é do filme “O papel e o Mar”, indicado pela Cidinha, sobre duas personagens negras que também reconstruíram suas histórias, o Almirante Negro e Carolina Maria de Jesus. Agradeço por meio da minha escrita, a uma das maiores escritoras negras do meu tempo, que torna visível os invisibilizados pela mídia. Ao meu turno, obrigada Cidinha da Silva, como também as companheiras. Marta Rosa, Inaldete Pinheiro, Piedade Marques (Pia), Adriana Nascimento e Girlana Diniz. E a Alzenide (Tia Leu) que mesmo ausente se fez presente por meio da Inaldete que falou "olha a Leu sempre me fala de você, que você escreve sobre mim."
Achei tão forte e útil essa citação que fecho este ciclo mentalizando eu estou aqui!    


“Não adianta rasgar as páginas da história, não adianta passar uma borracha naquilo que tá escrito, a palavra desenhada em papel tem vida, podem fazer o que quiser, mas nunca vai deixar de existir!"


Foto: Cortesia Adriana Nascimento

Por: Rosangela Nascimento
Assistente Pedagógica - Arte Educadora Social 

http://gshow.globo.com/programas/suburbia/

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